Numa sexta-feira, o time da Turma do Jardim da Vila Xavier marcou um jogo de última hora contra o poderoso Internacional de Santa Lúcia para o domingo, às 16h, no campo do adversário, naquele inverno de 1974.
Na correria, os diretores enviaram as cópias das laudas datilografadas para divulgação do amistoso nos órgãos de divulgação – O Imparcial, Diário da Araraquarense e Janela Esportiva (Rádio Cultura) –, principalmente para alertar os jogadores sobre o "jogo de última hora".
Na hora do tradicional embarque, às 14h, na confluência da Avenida Carlos Batista Magalhães com a Rua Treze de Maio, apenas seis jogadores estavam presentes. Desesperados, os diretores Macaxeira e Tonho saíram em busca de boleiros pelos bares e conseguiram a adesão de mais seis. Três veteranos no Bar do Fumaça e outros três seniores no Ponto Chic. Os reforços trouxeram garrafas de cerveja e porções de mortadela para continuarem a confraternização iniciada nos bares.
No primeiro minuto de jogo, a Turma do Jardim saiu à frente do placar. O meia João Gato, da intermediária, percebeu o goleiro Panelão adiantado e marcou um golaço por cobertura, com o pé esquerdo. A euforia durou pouco. O Internacional empatou e deslanchou no placar. Placar do primeiro tempo: Inter 7 x 1 Visitante.
No segundo tempo, o goleiro Bigatão, da Turma do Jardim, implorava para os companheiros não fazerem falta, pois temia o chute forte do zagueiro Torpedo, que já marcara quatro gols na primeira etapa em cobranças de tiro direto.Ao apito final do árbitro Ernane Salvador, a tragédia estava consumada. Inter 17 x 1 Turma do Jardim.
Na segunda-feira seguinte ao jogo, a imprensa esportiva cobrava de Macaxeira as informações sobre o amistoso. Preocupado com a repercussão negativa do "massacre", o diretor reduziu o placar (7 a 1) e enviou as cópias datilografadas com folhas de carbono bem "surradas" para dificultar a nitidez dos detalhes da partida.
A manchete do Diário da Araraquarense: "Inter não perdoa Turma do Jardim: 7 a 1", produzida pelo repórter Gê Moreira, irritou os diretores de Santa Lúcia, que exigiam retratação dos informantes pelo erro grotesco. Faltavam 10 gols do Inter.
Macaxeira se desculpou, alegou falhas dos carbonos, letras desgastadas da máquina de escrever, e ainda o jogo da Ferroviária na Fonte Luminosa contra o Corinthians, no mesmo horário do amistoso, o que levou os titulares da Turma do Jardim a ver os dribles de Rivelino. Matreiro, Macaxeira alegou que o garoto do placar abandonou o posto de trabalho quando o placar estava 7 a 1.
"A obrigação de atualizar o placar do estádio para o público é do time mandante", justificou o diretor.Apesar da retratação divulgada pela imprensa, a confusão sobre o placar de 7 a 1 ou 17 a 1 perdurou por décadas e Macaxeira se defendia sempre quando a tragédia era ventilada. "Jogo sem súmula, sem fotos, sem imagens gravadas, ninguém prova nada", dizia o folclórico diretor.
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