Cinco de outubro de 2014. Dia de decisão é dia de concentração total. A meta é neutralizar as ações do adversário por todos os ângulos possíveis. O ritual a ser seguido é neutralizar qualquer oportunidade do adversário, desde a chegada aos vestiários. O vencedor do duelo muda de patamar e pega o elevador para a Segunda Divisão. O perdedor fica estacionado no térreo, na Terceira Divisão.
A tática é bloquear os fantasmas e para isso é necessário convocar uma seleção sobrenatural para ocupar os 7.140 metros quadrados do gramado e evitar a tragédia para a torcida grená. Sim, haverá choro e ranger de dentes para uma das equipes. Quem ganha, comemora. Quem perde, lamenta e chora.
Repeti o ritual de 2013, quando desviamos os trilhos da queda da Série B para a Série C do Campeonato Paulista. Apoio sobrenatural e benção das bolas. Deu certo, balançamos, mas não caímos. A Locomotiva apitou forte e estremeceu a Fonte ao vencer o Santo André por 1 a 0.
No fundo do baú encontrei quatro velas que sobraram no maço da decisão de 11 anos passados. Caixa de fósforos no bolso rumei para o Cemitério São Bento, por volta das sete horas da manhã. O vento impedia a estabilidade das chamas. Foi preciso o empréstimo de uma casinha de proteção, toda enferrujada e de enorme valia, que estava encostada sem uso no túmulo ao lado do glorioso camisa 10 grená.
Após inúmeras tentativas e com queimaduras leves na palma de mão, as quatro velas mantiveram a chama da vitória. Uma oração pessoal. Pedidos para um toque sobrenatural na confusão da grande área, um leve pisão no pé de goleiro na saída do cruzamento. Primeira missão cumprida
Ao chegar na Fonte mantive um contato com os heróis gaúchos que viajaram de Erechim Até Araraquara para a decisão do acesso e no fundo da alma desejei uma ótima viagem de retorno. Também abracei o lendário Peixinho, de 84 anos, que veio de Piracicaba para a decisão com o jornalista veterano José Edvaldo Tietz e o jovem Matheus Tietz. Saudações aos integrantes da Afeganistão, Coração Grená e da Boca de Luxo, e aos fiéis torcedores atrás do banco de reservas; Fordinho, Roberta Silva, Paulinho Silva,Gilda da Costa Vieira, Reginaldo Berto, Paulinho Reis, Zé Bombarda e Cia.
A segunda missão era benzer as seis bolas do jogo. E essa foi mais fácil do que imaginava, apenas uma corridinha básica em direção a elas que estavam no saco de rede em frente à cabine do VAR.
Enquanto as equipes pisaram no gramado ao gramado eu toquei firme com sola do pé nas bolas e olhar fixo na meta do fundo da Fonte, onde estava torcida gaúcha. O ritual terminou com visão no gol de entrada e as seis bolas benzidas.
De cara, o gol do Ypiranga. Conferi o ritual e senti que faltava algo, saquei o Santo Antônio da mochila e o direcionei para o ataque afeano, que empatou, virou e ampliou o placar manipulado pelo amigo Soró.
Carlão (3) e Ricardinho balançaram as redes para delírio da torcida na Fonte e milhares de torcedores grenás espalhados no planeta Terra. Final: AFE 4 x 2 Ypiranga RS. “Macuco no borná” ou seja Série B em 2025.
Após as comemorações, nosso bando de quero-quero brincou alegre pelo gramado da Fonte até o sol raiar com imenso esplendor no primeiro domingo de outubro. Próxima estação: Série B rumo a Série A sem medo de fantasmas.
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