Quem poderia imaginar que ao entrar numa barbearia no Rio de Janeiro para cortar o cabelo aos dez anos de idade, nasceria um torcedor apaixonado pela Ferroviária. Enquanto folheava a revista “O Cruzeiro”, publicação histórica, o então menino Antonio Carneiro Bélier viu uma reportagem que mudou a sua vida. 6 a 3 em cima do Botafogo de Ribeirão Preto. Um ataque fulminante de um time que ele nunca mais esqueceu. “Paulinho, Cardoso, Bazani, Gomes, Boquita”, destaca.
O jogo que marcou em 1955 o primeiro acesso da Ferroviária à primeira divisão. Foi amor à primeira vista. Faz questão de lembrar também do centroavante Parada, aparentemente seu preferido, de Faustino, Tales, Dudu, Galhardo, Peixinho, ídolos inesquecíveis. E do timaço de 1959, que chegou ao 3º lugar do Paulista, lembrada como a melhor campanha na história da Ferroviária.
Desinteressado do futebol carioca, Bélier preferia as disputas paulistas. “No Rio de Janeiro só os times grandes ganhavam, sempre os mesmos se destacavam, então comecei a acompanhar o campeonato paulista por ser mais competitivo”, conta. Filho de portugueses, tinha uma certa afinidade com o Vasco, e o pai era torcedor do América carioca, mas faz questão de deixar claro: “meu time sempre foi a Ferroviária”.
Nas lembranças gloriosas do clube do coração, destaca a excursão afeana pela Europa em 1960. Foram 20 jogos, 2 empates e apenas 1 derrota em terras estrangeiras. A vitória mais marcante, 2 a 0 no Estádio das Antas em Portugal em cima do Porto, invicto até então a 48 partidas. O feito chamou atenção da imprensa europeia. “Os jornalistas portugueses elogiavam a Ferroviária”.
No mesmo ano, 1960, Bélier viu em campo pela primeira vez a AFE jogar. Foi no Maracanã num amistoso contra o poderoso Fluminense. Perdeu lá por 3x0, mas ganhou depois em casa por 5x1.
Na memória também estão bem vivas as conquistas de 1967, 1968 e 1969, que renderam à Ferroviária o título de tricampeã do interior e, na mesma década de ouro, o marcante jogo contra o Napoli, em 1968. 4 a 0 em cima dos italianos, que, na mesma excursão no Brasil, havia empatado por 1 a 1 contra o Coritiba, a Ponte Preta e o Palmeiras. A goleada abalou a viagem e não foi fácil explicar a derrota na volta à Itália.
A paixão era tanta que, de longe, o carioca dava um jeito de sintonizar em ondas curtas e ouvir os jogos transmitidos pela Cultura. “Quando jogava à noite pegava bem, mas de dia era difícil”, recorda. Montou uma antena especialmente para ouvir as partidas. Passou também a se corresponder com o pessoal de rádio da época, Dorival Marcondes Machado, Wilson Luiz, amigo até hoje, Dorival Falconi, Rubens Brunetti, Wagner Bellini.
Já nos anos 1970, mas precisamente em 1971, veio a Araraquara pela primeira vez para ver a Ferroviária jogar pelo Campeonato Paulista. A partir daí não parou mais de visitar a cidade e até comprou um imóvel por aqui para reforçar o vínculo com a Ferroviária. Está tentando convencer os filhos, que também moram em Portugal, a voltar para o Brasil, de preferência para viver em terra afeana, coisas que só uma grande paixão explica.
O time de 1985 da AFE, que chegou à semifinal do paulista e ficou em quarto, também tem um significado especial para Bélier. No mesmo ano, ele mandou confeccionar um jogo de botão inspirado no time e venceu com ele um campeonato interno da Petrobrás, empresa que trabalhava na época. O mesmo jogo também serviu para ele disputar a liga carioca de botão.
No período difícil da Ferroviária, ele começou a publicar os poemas que escrevia inspirados no time. “A Ferroviária é o time com maior acervo literário que existe”, orgulha-se. Hoje já são mais de 700 poemas, que podem ser acessados pela internet em www.poemafeano.blog.com; www.poemafeano.wordpress.com;
O jogo do acesso daquele sábado, 18 abril, inesquecível, assistiu pela internet, reunido com os alunos na escola em que dá aulas em Portugal. Para comemorar, ele que não bebe, brindou com um cálice de vinho do Porto, bebida tradicional no país.
As publicações do poeta e escritor Antonio Carneiro Bélier podem ser acessadas em www.poemafeano.blog.com; www.poemafeano.wordpress.com; e www.afenet.com.br.
Legenda: Antônio Carneiro Béllier em entrevista a repórter Gláucia Santiago da EPTV
‘Poeta afeano’ Antonio Carneiro recebe Título de Cidadão Araraquarense
Homenagem foi proposta pelo vereador e presidente da Câmara Municipal, Paulo Landim (PT), e entregue na quarta-feira 12/04/2023, dia do aniversário da Ferroviária
No dia em que a Ferroviária completou 73 anos de fundação, a Câmara Municipal realizou, nesta quarta-feira 12/04/2023, a Sessão Solene de entrega do Título de Cidadão Araraquarense a Antonio Carneiro, o Bélier, conhecido como “poeta afeano”. A homenagem é de autoria do presidente da Câmara, Paulo Landim (PT).
Ainda estiveram presentes na Sessão Solene a vereadora Fabi Virgílio (PT); o gerente das Escolinhas de Esportes, Julio Cezar Invenzioni Alexandre, representando a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer; o ex-jogador da Ferroviária José Nilgerson Barbosa, o Paina; além de torcedores da Ferroviária e integrantes da imprensa esportiva de Araraquara.
Em sua fala, Landim parabenizou o homenageado por seu histórico de amor e dedicação à Ferroviária. “Estamos aqui reunidos nesta Sessão Solene por conta do amor que temos pela Ferroviária e para homenagear o Bélier, além de homenagear cada torcedor da Ferroviária. Bélier, que Deus te ilumine e dê muita paz. Estamos esperando você aqui em Araraquara e na Câmara. Obrigado por me dar essa chance de entregar o Título de Cidadão Araraquarense”, afirmou o parlamentar.
O jornalista e narrador esportivo José Roberto Fernandes, que comanda a equipe “Os Campeões da Bola”, reforçou que a homenagem do Legislativo é muito justa. “Foram muitas vezes que ele se sentou na arquibancada de concreto da inesquecível Fonte Luminosa para ver seu time do coração jogar. Perder, ganhar, empatar, não importa. Importava, para ele, era a presença no estádio. Em nome da minha equipe, enalteço esta iniciativa da Câmara Municipal, que é a grande representante do povo de Araraquara. O Antonio Carneiro merece todas essas homenagens. Por ser escritor, poeta e por carregar na alma o manto grená”, disse.
“É uma sessão histórica. São 73 anos da nossa querida Ferroviária. E um Título de Cidadão Araraquarense que tem uma importância extraordinária na vida das pessoas. Sou Cidadão Araraquarense por designação dessa Câmara, e é uma das coisas mais importantes que aconteceram na minha vida. Esse mesmo orgulho, com certeza, o Antonio Carneiro deve estar sentindo”, complementou José Roberto Fernandes.
O também jornalista esportivo Rodrigo Coutinho Sossolote, o Soró, que sugeriu a Paulo Landim que oficializasse a homenagem, destacou que Carneiro é o maior torcedor internacional da Ferroviária. “As homenagens têm que ser feitas em vida. O Antonio Carneiro é o nosso representante maior da torcida da Ferroviária no exterior. Ele sempre fez os seus poemas nas vitórias, nas derrotas. É uma honra estar aqui na Câmara hoje”, disse Soró, que recebeu a placa de homenagem representando presencialmente o “poeta afeano”.
Participando da Sessão Solene de forma online, em Portugal, Antonio Carneiro agradeceu à Câmara, relembrou times históricos da Ferroviária e falou sobre sua relação com jornalistas esportivos de Araraquara, já que o rádio é o principal meio que ele utiliza para estar por dentro do dia a dia do clube grená. Carneiro ainda informou que escreveu 684 poemas sobre o time de Araraquara desde 2002.
“Aos presentes, meus amigos, agradeço. Estou muito emocionado. Só lamento não poder estar aí. Posso dizer que é muita bondade me atribuir esse título. Sou apenas um torcedor, quase sempre ausente, e que tenta ter conhecimento sobre a Ferroviária, estar sempre na escuta dos jogos e torcendo muito. A Ferroviária é parte muito importante da minha vida”, declarou Carneiro.
Paixão pela Ferroviária
Antonio Carneiro nasceu e cresceu no Rio de Janeiro (RJ) e teve seu primeiro contato visual com a Ferroviária ao folhear uma revista “O Cruzeiro”. Como não conseguia ter informações da equipe de Araraquara pelos jornais, passou a acompanhar os jogos pelas ondas tropicais da Rádio Cultura. Em 1972, ele pisou pela primeira vez no solo araraquarense e se sentou nas arquibancadas da Fonte Luminosa.
Carneiro estudou, tornou-se engenheiro eletrotécnico, casou-se, formou sua família e se aperfeiçoou dentro de sua profissão. Em 1993, ele recebeu um convite para morar e trabalhar em Vila Nova de Gaia, em Portugal.
Paralelamente, ele também se especializou na arte de escrever. Publicou 11 livros sobre temas técnicos de engenharia, sobre o cantor Elvis Presley e sobre poetas que o inspiraram.
Em Araraquara, o “poeta afeano” já havia recebido homenagem no Museu de Reminiscências Paschoal Gonçalves da Rocha, onde foi presenteado pelo grupo Filhos do Paschoal com uma placa e uma medalha. Seus textos sobre a Ferroviária estão disponíveis no site poetafeano.wordpress.com.
A íntegra da transmissão da Sessão Solene está disponível para visualização no Facebook e no YouTube da Câmara Municipal de Araraquara.
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