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Segunda-feira, 07 de Outubro de 2024

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Os meninos, o campo do ACCO e o troleibus!

Professor Alexandre José Pierini - Uniara

Os meninos, o campo do ACCO e o troleibus!
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Ele esperava ansioso o troleibus no ponto de ônibus. Chuteira Viola entre os dedos, mascando chicletes e andando de um lado para o outro na calçada. Era dia de jogo do campeonato infantil de futebol, que iria acontecer no estádio do ACCO, um campo de futebol que fica na Vila Xavier.

O caminho até lá é longo, a Vila Xavier fica do outro lado da cidade, ele precisava pegar o troleibus na Rua João Gurgel, entre as avenidas Cristóvão Colombo e São Geraldo, próximo aos secos e molhados que pertencia à Dona Malvina, e cruzar a cidade. O troleibus da linha Santana-Pinheirinho praticamente atravessava a cidade de ponta a ponta.

Ele torcia para vir o troleibus de número oito. Ele achava o ônibus mais confortável, embora fosse mais velho e lento. Os troleibus antigos tinham as cores azul e branco. Os bancos em couro de cor azul eram confortáveis e suavam as pernas durante o trajeto, ele achava aquilo engraçado. As janelas tinham travas, às vezes elas emperravam e teimavam em não abrir, era melhor passar calor do que insistir na abertura.

Andar de troleibus era uma aventura. Ainda nos dias de hoje, ele se lembra do motorista que possuía uma moita como cabelo, usava óculos e tinha um bigode preto e branco. O homem atrás daqueles óculos e do bigode ficou furioso porque, literalmente, os “chifres” do troleibus caíram e, a reação dele é indescritível nessa crônica, rendeu um ataque de nervos fenomenal e foi palavrão de toda ordem e calibre para todos os lados, pois para colocá-los no lugar era uma luta incessante e, as vezes, demorava muito tempo.

O ponto bom da “viagem” de troleibus até à Vila Xavier era encontrar a molecada durante o trajeto, às vezes subiam companheiros de time no ônibus, muitas vezes adversários conhecidos pelos seus talentos, mesmo assim, o papo rolava solto no troleibus, todos de chuteiras entre os dedos, vez ou outra alguém levava laranja para chupar durante o trajeto e todos chegavam juntos ao ACCO.

A molecada se reunia, todos ficavam conversando sob as sombras das árvores esperando o portão abrir e os treinadores chegarem, não importava o time de cada um, antes dos jogos, todos eram “amigos”. Os treinadores chegavam geralmente de bicicletas ao ACCO. Eles carregavam os uniformes em grandes sacos de arroz sobre o guidão das bicicletas.

De qualquer forma, ele não entendia ainda na tenra idade o que aquilo significava, como homens como aqueles, se sujeitavam a levar sacos de uniformes de time de futebol nas bicicletas para um monte de moleques que mal conheciam, sem quase nenhum vínculo afetivo e praticamente sem nenhum ganho financeiro. Tempos depois, passou a refletir a frase de Willian Shakespeare para responder a essas indagações: “existem mais coisas entre o céu e a terra do que a nossa vã consciência possa imaginar”.

 

 

 

 

 

FONTE/CRÉDITOS: Professor Alexandre José Pierini - Uniara
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