Saiu de casa à esmo naquela manhã alegre de sábado com a sua bicicleta, não era preciso ir à escola e não tinha obrigações de casa para fazer, portanto, dar uma volta de bike era convidativo e fundamental, apesar do calor da Morada.
Como morava próximo à rua 1 (um), resolveu subir a Barroso até o cruzamento com a rua 2 e seguiu em direção ao bairro do Santa Angelina, lá em cima, já no caminho da Fonte Luminosa, cruzou a Bento de Abreu rumo à Praça do Paliteiro.
Depois, desceu a rua 3 (três) e entre as avenidas 40 (quarenta) e 42 (quarenta e dois) avistou um senhor sentado na porta de uma bicicletaria, olhou com atenção aquela cena e resolveu parar, afinal, tinha uma bicicleta nova em exposição e resolveu conhecê-la.
_ O senhor trabalha aqui? Perguntou o menino, afoito e curioso!
_ Sim...sou o proprietário!
_ Gostaria de saber mais sobre essa bicicleta que está em exposição, disse o menino.
_ Então, vamos entrar! Falou o homem!
O menino percebeu que havia vários pôsteres nas paredes e alguns troféus espalhados na prateleira e resolveu perguntar:
_ Quem é esse nos pôsteres? Indagou o menino.
_ Sou eu! Disse o senhor.
_ Como é seu nome? Perguntou o menino, apreensivo!
_ Anésio Argenton! Disse o senhor com olhar fraternal!
_ Ah..vai haver uma prova de ciclismo essa semana e ela leva o seu nome, agora entendi tudo! O senhor já foi campeão de ciclismo? Para ter o nome numa prova com certeza deve ter sido alguém bem importante! Bom, pelo menos é o que eu acho!
Falou o menino com cara de surpresa!
_ Sim, já ganhei várias provas, mas isso faz muito tempo! Disse Seu Anésio.
_ O tempo não apaga as glórias conquistadas! Retrucou o menino com ar de sapiência.
_ Me conte um pouco de suas conquistas! Tenho tempo o suficiente, hoje é sábado e posso chegar em cima da hora do almoço, minha mãe não vai brigar comigo! Falou o menino!
Seu Anésio olhou para o menino demonstrando paciência e pediu para ele se sentar.
_ Não foram tantas, ganhei os jogos pan-americanos de Chicago em 1959, depois fiquei em quinto nos Jogos Olímpicos de Roma em 1960 e no Jogos pan-americanos de 1963 fiquei com a medalha de bronze, acho que dei alguma contribuição para o ciclismo brasileiro! Falou seu Anésio de forma humilde.
_ Poxa! Então, parei no lugar certo e ainda conheci um campeão de ciclismo, jamais imaginei isso! Falou o menino em tom de surpresa.
_ Hoje, vivo bem aqui, arrumo algumas bicicletas, outras eu vendo, mas é a vida, eu ainda pedalo, mas só de vez em quando, os joelhos já não ajudam mais, mas vamos fazer o seguinte, sábado que vem, apareça aqui no mesmo horário e vamos pedalar juntos, podemos combinar? Disse seu Anésio com sorriso no rosto.
_ Nossa, nem vou dormir de tanta ansiedade, pedalar com um campeão, realmente é para poucos e claro, está combinado. Disse o menino com sorriso no rosto estendendo a mão para cumprimentar seu Anésio.
O menino saiu da loja em extase e no caminho de volta para casa lembrou-se da poesia que seu professor de literatura havia certo tempo atrás recitado em sala de aula:
Ia pelo caminho calorento,
O sol como um milharal em chamas
E a terra um infinito círculo saboroso com o céu azul em cima, desabitado.
Passaram junto a mim as bicicletas de Argenton!
Obs: Poesia de Pablo Neruda adaptada chamada “Ode à bicicleta”
FONTE/CRÉDITOS: Professor Alexandre José Pierini - Uniara
O texto acima expressa a visão de quem o escreveu, não necessariamente a de nosso portal.
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